Instalado em Picote, numa casa tradicional recuperada para o efeito, o Ecomuseu "Terra Matter" abriu portas com uma exposição intitulada "Cultibos, Yerbas i Saberes". Pensado já desde 2008, o Ecomuseu é o epicentro de todo um projecto que tem vindo a "revolucionar" Picote e que teve como principal promotor a EDP, mas envolveu vários parceiros, como a câmara, a Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote – Frauga, a junta de freguesia local, a Corane, entre muitos outros.

No "Terra Matter", os visitantes são desafiados a sair para o terreno, a conhecer as Terras de Miranda, num conceito que rompe com a noção "tradicional" de museu, conforme explicou Jorge Lourenço, presidente da Frauga, entidade gestora do Ecomuseu. "Este é um museu virado para o exterior, virado para os recursos naturais, para os recursos humanos, para as práticas e saberes tradicionais que não são possíveis de fechar num espaço físico", apontou.

Numa perspectiva de envolvimento com o espaço natural, o "Terra Mater" vai buscar os elementos da natureza – água, ar, terra e fogo – para associar a cada um deles, locais de visita e de exploração. Assim, ao termo água, podem ser associadas as barragens de Picote e de Miranda do Douro, visitáveis ao público. Também as fontes, fontanários e antigos tanques, bem como moinhos e cegonhos, foram recuperados para serem visitados. Pelo fogo, o visitante pode apreciar as antigas forjas, o antigo forno de telha ou o tradicional forno de pão. A terra é outro dos elementos centrais que apela à observação cuidada dos socalcos do Douro Superior que fazem daquela paisagem uma das mais bonitas da região transmontana, mas também das hortas de onde muitos agricultores ainda retiram o sustento, bem como de todos os elementos geológicos ali existentes. O elemento ar é uma presença constante de toda a natureza mas também presente na música tradicional ou no chilrear dos pássaros. Ao longo de dois anos os espaços públicos foram requalificados, a iluminação pública substituída, entre muitas outras acções que têm vindo a provocar, junto dos privados, acções de maior dinamismo.

A recuperação física do imóvel onde o Ecomuseu está instalado envolveu um montante de cem mil euros. Já a aquisição dos painéis e de material informático rondou os 50 mil euros. No entanto, este não é um projecto que termine com a conclusão e abertura do "Terra Mater". A dinâmica que surgiu na localidade e que se "alastrou" aos proprietários privados, que recuperaram as fachadas das suas habitações, poderá vir a ter efeitos em todo o concelho de Miranda do Douro. Pelo menos essa é a expectativa de Jorge Lourenço que acredita que o Ecomuseu possa potenciar a preservação e divulgação da cultura local. A Associação Frauga pretende ainda levar a bom termo um projecto para a constituição de um Centro de Recursos da Língua e Cultura Mirandesa, com ligação a outras instituições defensoras das línguas minoritárias, como a Academia de Língua Asturiana. Outro dos projectos idealizados é o de criar em Picote um campo arqueológico para prospecção, uma vez que a localidade aparece referenciada como "civitas", ou seja, seria sede de uma organização administrativa da época romana. Jorge Lourenço diz que os achados arqueológicos que ali têm aparecido sugerem isso mesmo e, por isso, a médio – longo prazo, a associação, em conjunto com outras entidades e envolvendo investigadores, pretende desenvolver mais estudos no local.

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Projecto NORTE 03-0230-FEDER-000066 · ON.2 _Eixo prioritário III – Valorização e qualificação ambiental e territorial