A Terra de Miranda (Nordeste Transmontano, Portugal) corresponde a uma região conhecida não só pela diversidade cultural e linguística mas também pela grandiosidade paisagística e da vida selvagem e pelas características únicas dos seus ecossistemas, incluindo os ecossistemas agrários. Ao longo do tempo as particulares características orográficas, geológicas e climáticas do território condicionaram a fauna e flora naturais mas também as atividades humanas. Os recursos naturais, a agricultura e a pecuária foram o principal meio de subsistência das populações. As potencialidades do meio natural aliadas às intervenções de âmbito agrário levadas a cabo pelo homem moldaram a paisagem tornando-a variada e multicolor. Carvalhais e soutos, carrascos, sobreiros, zimbros, zambujeiros e outras espécies espontâneas tipicamente mediterrânicas ocorrem lado a lado ou intercaladas com amendoais, olivais, vinhas, searas de trigo, lameiros e hortas onde se cultivam variedades tradicionais de hortícolas e fruteiras. Territórios onde a cegonha preta, o grifo, a águia-real, e o abutre do Egipto sobrevoam os socalcos e terraços talhados pelo homem nas arribas do rio e os rebanhos de cabras e ovelhas, o gado bovino e os típicos burros de Miranda. Assim sendo, como resultado da presença humana estão também presentes as tradições, o folclore, o artesanato e até a própria língua mirandesa.
Trata-se de um património natural intimamente associado a um património cultural local. A conjugação de todos estes elementos permitiu e justificou a criação do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) e fundamenta a adoção de medidas que facilitem a valorização e conservação da multiplicidade dos ecossistemas e das suas características mais relevantes, nomeadamente as paisagísticas, socioeconómicas e culturais. Muitas foram as transformações sociais, demográficas e tecnológicas das últimas décadas que conduziram e vêm conduzindo ao abandono do mundo rural e das práticas tradicionais, o que direta ou indiretamente constitui uma ameaça para a diversidade dos ecossistemas tanto naturais como agrários.
Este contexto justificou a apresentação em 2009 da candidatura do projeto Cultibos yerbas i saberes: Biodiversidade, sustentabilidade e dinâmica em Terra de Miranda, ao ON.2 – Programa Operacional Regional do Norte, no âmbito do Eixo III – Valorização e Qualificação Ambiental e Territorial, através do Regulamento Gestão Ativa de Espaços Protegidos e Classificados. Candidatura que foi reforçada em 2010 com a submissão e seleção do projeto para atribuição de verba do Fundo EDP para a Biodiversidade.